Quase a terminar o ano em que se assinala a passagem de cinco décadas sobre o 25 de Abril e a descolonização, chega às livrarias Crepúsculo do Império – Portugal e as guerras de descolonização, um documento único coordenado por Pedro Aires Oliveira e João Vieira Borges.
A obra, que contou com a participação de 37 autores oriundos de várias instituições universitárias portuguesas e estrangeiras, bem como de especialistas reconhecidos na área da história, da estratégia e das ciências militares, mas também da sociedade e da economia, oferece uma nova perspetiva sobre as guerras de descolonização, vistas de ambos os lados do conflito em toda a sua extensão e de acordo com os mais recentes estudos.
Ao longo de 800 páginas abordam-se questões menos conhecidas do grande público: os prisioneiros de guerra, a deserção, a propaganda, os africanos que combateram pelo império, ou a participação das mulheres nos conflitos: «Desde o apoio logístico e médico nos bastidores até ao desenvolvimento direto nas operações de combate, as mulheres desempenharam uma variedade de papéis essenciais, desafiando as normativas de género e contribuindo para os esforços de libertação nacional», relata Ana Filipa Correia, mestre em História Contemporânea e investigadora independente, referindo-se às mulheres africanas.
Destaque ainda para o capítulo em que se examina a representação fotográfica da guerra, nomeadamente as fotos das coleções pessoais dos ex-combatentes que, aos poucos, têm sido partilhadas e evocam momentos únicos que na altura era proibido revelar. «Não deveriam ser difundidas fotografias ou filmes em que os elementos das forças armadas fossem “apresentados mal uniformizados, em atitudes incorretas, etc.”», lembrou Maria José Lobo Antunes, professora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
Importa ainda mencionar a capa do livro que mostra uma imagem, da autoria de Joaquim Lobo, em que se veem algumas estátuas portuguesas parcialmente destruídas, no Município de Cucuaco, Angola, em novembro de 1975.